sábado, 24 de março de 2012

Por uma verdadeira recuperação nas escolas estaduais


Entre as medidas contidas na resolução estão a instituição da “recuperação contínua”, com atuação de professor auxiliar em classe regular do ensino fundamental e médio e a recuperação intensiva no ensino fundamental, constituindo classes em que se desenvolverão atividades de ensino diferenciadas e específicas.No dia 12 de janeiro de2012 a Secretaria Estadual da Educação publicou no Diário Oficial do Estado a Resolução SE 2, de 2012, instituindo “mecanismos de apoio escolar aos alunos do ensino fundamental e médio da rede pública estadual”. O assunto ganhou maior publicidade somente agora, com a publicação de reportagens em pelo menos dois grandes jornais, noticiando que não haverá mais classes de “recuperação paralela”.

Antes de entrarmos no mérito dessas medidas, precisamos deixar claro que não concordamos com o método adotada pela SEE para a tomada de decisões que afetam o processo ensino-aprendizagem, o cotidiano e a vida profissional dos professores. Uma vez mais as decisões foram tomadas sem diálogo com os professores e com as entidades representativas da categoria.
A Secretaria da Educação alega que o tema foi discutido nos chamados “pólos”, instituídos em algumas regiões do estado. Entretanto, não diz que esses pólos foram compostos por professores e demais profissionais da educação escolhidos a dedo pelas diretorias de ensino e pelas direções das escolas. Desta forma, tais fóruns carecem de legitimidade para falar em nome do conjunto da nossa categoria.
Entrando no mérito da questão, acredito que a extinção da recuperação paralela é uma medida intempestiva e equivocada da Secretaria Estadual da Educação. Creio que se existem falhas e problemas na recuperação paralela, eles não serão resolvidos com a sua extinção, mas ela deveria ser repensada à luz de outras medidas necessárias. As constantes mudanças de políticas educacionais, descontinuando programas em andamento, prejudicam os alunos e comprometem a qualidade de ensino.
A recuperação deve se dar a partir de um diagnóstico das dificuldades de aprendizagem dos alunos. Desta forma, é preciso que ele possa recuperar esses conteúdos para que possa avançar nos estudos e isto deve ser feito de forma paralela, concomitante, para que ele possa, de uma forma dinâmica, recuperar o que perdem e continuar acompanhando sua turma. Da forma como a SEE está organizando, agora, a recuperação, dentro da própria sala de aula, haverá maiores dificuldades para alcançar este resultado, podendo até mesmo prejudicar a aprendizagem dos alunos que estão mais à frente.
Quanto à instituição do professor auxiliar, há vários problemas envolvidos. O primeiro deles é que é previsível que existirão descompassos entre o professor titular da disciplina e o professor auxiliar, pois nem sempre estarão no mesmotiming.
Também está previsto que o professor auxiliar existirá nas salas mais numerosas. Isto é um contradição, pois a existência de salas numerosas, com 40, 45 ou até 50 alunos é justamente uma das razões da dificuldade de aprendizagem de muitos alunos. Há anos a APEOESP luta contra a existência de classes superlotados na rede estadual de ensino e, agora, elas são adotadas como um dos critérios para a recuperação contínua. Isto é apenas uma forma de tentar contornar o problema, não de resolvê-lo.
Há outra contradição: a falta de professores é uma das razões alegadas para não aplicar a composição da jornada de trabalho determinada pela lei federal 11.738/08 (lei do piso), que destina no mínimo 33% deste tempo para a preparação de aulas, elaboração e correção de provas e trabalhos, formação continuada na própria escola e, também, para que o professor dê a devida atenção a cada um de seus alunos.. Mas, se faltam professores, como prover os professores auxiliares necessários para a efetivação do programa de recuperação continua?
Se faltam professores – e são necessários mais professores para a aplicação deste programa – por que o governo insiste em aplicar a chamada “prova dos OFAs” para manter esses professores na condição de não-efetivos (em vez de realizar concursos públicos), sendo obrigado, depois, a abrir o cadastro até mesmo para professores que sequer participaram da prova?
Não se faz educação de qualidade sem oferecer aos professores condições de trabalho e aos alunos condições de ensino-aprendizagem. Uma das principais condições de trabalho que falta aos professores neste momento é uma correta organização de seu tempo de trabalho.
A composição da jornada de trabalho do professor de acordo com o determinado pela lei 11.738/08 é um passo muito importante para que o professor tenha condições de ministrar aulas melhores, para se desenvolver profissionalmente, para adoecer menos e, também, para desenvolver um bom trabalho de recuperação dos alunos.
Sou sempre a favor de melhorar a educação e torço para que medidas que visem melhorar a aprendizagem dos alunos funcionem. Porém, sem que se tomem as medidas corretas, pretendendo avançar podemos estar apenas trocando seis por meia dúzia.
Blog da Presidenta da APEOESP

Nenhum comentário:

Postar um comentário